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Vidas Atravessadas Pelo Óleo
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Áreas de Fundeio

A fotografia acima captura um contraste emblemático presente na Baía de Guanabara: em primeiro plano, um caíco de pesca artesanal, simples e pequeno, evoca a tradição e a resistência de um modo de vida. Ao fundo, imponente e dominando a paisagem, está o navio Abreu e Lima, atualmente em reforma para ser transformado em um navio-tanque para o transporte de petróleo. Esta imagem sintetiza a dinâmica de poder entre a indústria e as comunidades locais.

A discrepância de escala e propósito entre as duas embarcações fica evidente. O caíco, operado por pescadores que dependem diretamente da qualidade da água, peixes e plantas da baía para a sua subsistência, representa formas tradicionais de viver em harmonia com a ecologia local. O navio, por outro lado, simboliza a crescente industrialização e a imposição de uma economia focada nos recursos naturais, muitas vezes em detrimento do meio ambiente local e do bem-estar das comunidades que dele dependem.

A reforma do Abreu e Lima em um navio-tanque não é apenas uma transformação física, mas também uma representação do movimento em direção a um modelo econômico que coloca o crescimento industrial e a exploração de recursos acima da sustentabilidade e da ecologia local. A proximidade das duas embarcações na fotografia realça a conexão e o conflito entre essas realidades, fornecendo uma metáfora visual da tensão que existe entre progresso industrial e conservação ambiental na Baía de Guanabara.

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Foto: Frederico de Assis. Data: 27/07/2023. Local: Áreas de Fundeio.

A disputa narrativa entre pescadores artesanais e certas empresas em torno da condição ambiental da Baía de Guanabara não é apenas um conflito de interesses econômicos e de subsistência, mas também um embate simbólico que define como a sociedade em geral percebe e valoriza esse ecossistema. 

 

O ponto de partida para esta pesquisa foi entender o fundamento das narrativas em conflito: por um lado, a das empresas, que podem ter interesse na continuidade de atividades industriais ou no desenvolvimento de infraestruturas que impactam o meio ambiente. Para elas, a noção de que a Baía de Guanabara é uma “Zona de Sacrifício” pode servir para justificar intervenções que favoreçam o crescimento econômico, mesmo à custa da degradação ambiental. Esta narrativa se alinha, muitas vezes, a um discurso de progresso inevitável, no qual certas perdas ambientais são vistas como um preço necessário a ser pago para o desenvolvimento.

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Por outro lado, os pescadores artesanais, que têm na baía não apenas seu local de trabalho, mas também uma fonte de identidade cultural e de manutenção de seus modos de vida, lutam para reafirmar a vitalidade do ecossistema. Para eles, a Baía de Guanabara está viva, repleta de espécies que sustentam suas comunidades e que são testemunhas da resistência desse ambiente. Esta é uma luta que transcende a esfera econômica e toca no direito de existir e prosperar de uma comunidade, na sua autonomia e no seu modo de vida.

 

Dessa maneira, a abordagem desta pesquisa buscou compreender as práticas, as narrativas e os saberes locais que são frequentemente ofuscados por discursos de desenvolvimento e industrialização. Com o objetivo de caminharmos lado a lado com os pescadores artesanais, esta pesquisa optou por documentar e analisar os desafios ambientais enfrentados por eles, enquanto simultaneamente buscou enxergar as manifestações de vida que persistem e enriquecem este ecossistema, bem como as soluções apresentadas pelas comunidades pesqueiras para a mitigação dos conflitos.

Fábio na Baía de Guanabara

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